Português
Gamereactor
análises
The Witness

The Witness

Será assim tão divertido explorar puzzles numa ilha remota? A resposta na nossa análise.

HQ

Ao longo dos anos tivemos a oportunidade de experimentar muitos jogos de puzzles e aventura, e qualidade não faltou, mas só alguns se revelaram como geniais. Um fator era comum a todos eles: surgiam no nosso pensamento mesmo quando não estávamos a jogar. Braid, do mesmo criador de The Witness, Jonathan Blow, foi claramente um desses casos, e o seu novo projeto voltou a repetir o feito. Chegámos a desenhar esboços em folhas de papel depois de nos lembrarmos de uma solução para um puzzle, o que diz bem da nossa imersão na experiência que Jonathan Blow criou.

The Witness distingue-se imediatamente no departamento visual. Basta olhar para os vídeos e para as imagens nesta página. Vão estar sempre rodeados de cores vivas que servem como indicadores visuais. A ilha onde se passa o jogo está dividida em várias áreas, cada uma distinguida em termos de arquitetura e cores. O facto de não existir uma interface clássica no ecrã é surpreendentemente agradável, e é apenas mais um passo que o jogo toma para aumentar a imersão do jogador.

HQ

O departamento sonoro também tenta distinguir-se, com um tratamento muito "natural", mas não cumpre o seu objetivo da mesma forma. Os sons da ilha resumem-se sobretudo ao vento, aos vossos passos, às ondas do mar, e a estranha máquinas em funcionamento. É uma abordagem ao som que acaba por se tornar um pouco desgastante e aborrecida, sobretudo quando estão presos numa área. Percebemos que tenham optado por este caminho, já que alguns puzzles necessitam de partilhar indicações sonoras, mas um pouco de música relaxante teria sido agradável e em contexto.

Publicidade:

Mas o que é afinal The Witness, e como se joga? Bom, tudo se passa numa perspetiva na primeira pessoa, e devem resolver puzzles bidimensionais traçando linhas de uma ponta de um ecrã dentro do jogo, até ao ponto assinalado. Cada ecrã inclui um com uma solução particular, e para resolverem esses puzzles terão de tomar atenção a alguns detalhes no ecrã, ou procurar pistas no ambiente à vossa volta. É difícil ser muito mais específico que isto sem estragarmos surpresas, mas vamos deixar pequenos exemplos: num puzzle têm de desenhar a linha sem tocarem nas sombras que cobrem o ecrã, noutro têm de conseguir isolar certos símbolos expostos no ecrã, e assim sucessivamente. Cada área da ilha pretende estimular diferentes capacidades cerebrais do jogador.

É como um gigantesco teste à vossa inteligência, mas situado num lindo mundo aberto à exploração. Se resolver puzzles não é algo que vos entusiasme, então devem ignorar The Witness, porque é essa a premissa do jogo. No início de cada área vão ter acesso a puzzles mais ligeiros, que pretendem apresentar o conceito por trás dos desafios que vão encontrar mais à frente. A cada ecrã que encontram, a dificuldade é aumentada progressivamente, e é uma sensação de progresso extraordinária. O que não significa que eventualmente não fiquem encravados num puzzle sem encontrarem a solução.

Sim, porque isso vai acontecer de certeza. Na segunda noite em que jogámos, andámos quase duas horas a percorrer a ilha sem encontrarmos um puzzle que conseguíssemos resolver. Já nos apetecia escrever um texto a reclamar com a ausência de pistas no jogo, mas depois aconteceu algo. Pensámos: "e se usássemos mecânicas que aprendemos noutras áreas e as combinássemos com o que aprendemos aqui?" E assim foi. Nos desafios mais difíceis é provável que tenham de recorrer aos ensinamentos das outras áreas. Isso explica por que o jogo está completamente aberto longo a partir do início. Todas as áreas estão, até certo ponto, ligadas umas às outras, com ideias que podem ser pistas para puzzles noutras zonas. É uma decisão de design brilhante.

Mas, como quase tudo na vida, até algo muito bom pode ser excessivo. Depois de várias dezenas de horas a desenhar linhas e a resolver puzzles, The Witness pode tornar-se repetitivo. Não serão todos os jogadores dispostos a resolver mais de 400 puzzles com mecânica simples, e essa será a característica mais polarizante do jogo. No nosso caso específico, gostámos da experiência e nunca nos fartámos realmente do que o jogo tem para oferecer, mas é fácil perceber que isso não será o caso para muitos jogadores.

Publicidade:
HQ

Além dos puzzles, The Witness também vive muito da exploração da ilha. Existem vários segredos e gravações para encontrarem, mas quase todos são dedicações ou citações de indivíduos famosos. São expressões muito simbólicas, mas nem todas são evidentes. Existe algo para descobrir em The Witness, mas se estão à procura de uma narrativa esmagadora que responda aos segredos do universo, não vale a pena considerar The Witness. A sua intenção é provocar pensamentos no jogador sobre vários temas, com detalhes muito abertos à interpretação, e não uma narrativa clara e direta.

Pode não parecer uma comparação óbvia, mas The Witness é o Bloodborne (ou Dark Souls) dos jogos puzzles. Os dois jogos são visualmente distintos, e ambos proporcionam desafios complicados, mas justos. Como em Bosses de Bloodborne, vão ficar encravados em puzzles de The Witness, mas a sensação de ultrapassar um desses desafios tremendos é fantástica. Conseguir compreender a solução de um puzzle, ter o momento de 'eureka' necessário para ultrapassar o problema, equivale-se ao derrotar de um poderoso inimigo em Bloodborne. Depois ficam livres para explorar mais um pouco, para aprenderem mais sobre o jogo, até encontrarem novo obstáculo para ultrapassar.

Embora possa tornar-se repetitivo, e a ausência de uma banda sonora clara seja uma grande falha na nossa opinião, não podemos deixar de referir o novo trabalho de Jonathan Blow como uma obra magnífica. O design dos puzzles e o sentimento de progressão associado à ilha é claramente um trabalho de muito esforço, dedicação e inspiração. Será o jogo de puzzles a que todos os outros irão aspirar a partir de agora.

HQ
The WitnessThe WitnessThe Witness
The WitnessThe WitnessThe Witness
09 Gamereactor Portugal
9 / 10
+
Ambientes lindos e detalhados. Puzzles desafiantes, mas com boa progressão. Muitos segredos para desvendarem.
-
Pode tornar-se repetitivo. Não inclui banda sonora evidente.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

Textos relacionados

0
The WitnessScore

The Witness

ANÁLISE. Escrito por Eirik Hyldbakk Furu

Será assim tão divertido explorar puzzles numa ilha remota? A resposta na nossa análise.



A carregar o conteúdo seguinte