Há uma mistura deliciosa de maneirismos e temas em Night in the Woods, que é já um dos grandes destaques dos jogos Indie em 2017. Night in the Woods tem um aspeto aparentemente simples, quase infantil, mas trata de temas adultos e até sombrios com grande inteligência, tópicos que poucos jogos atrevem tocar. O jogo captura com grande eficácia a sensação de incerteza que a maioria dos jovens adultos sentem na sua vida, e todas as escolhas difíceis que têm de tomar durante o processo de maturidade. É um jogo sobre as dificuldades da classe trabalhadora, e como uma pequena aldeia norte-americana tem uma morte lenta e previsível. Retrata uma estória subtil sem ser pretensiosa ou excessivamente artística, e o resultado é estupendo.
Foi há pouco mais de três anos que os amigos Alec Holowka e Scott Benson criaram uma campanha no Kickstarter para angariarem 50 mil dólares para conseguirem criar o seu próprio jogo de aventura. Uma semana depois esse objetivo foi ultrapassado, e a campanha obteve mais dinheiro que o previsto. Agora, Night in the Woods chegou finalmente para PC e PlayStation 4.
A estória concentra-se numa gata humanoide chamado Mae, que se muda novamente para casa dos pais depois de sair do colégio. Todos os dias têm de escolher com que amigos vão passar a tarde, e o foco do jogo está claramente na narrativa e nas personagens encantadoramente complexas que vão conhecendo pelo caminho. É um jogo sobre a experiência a estória, não mecânicas de jogo. Bea, Gregg, e Angus são todos amigos e de Mae, mas têm personalidades muito vincadas e distintas. Os três partilham no entanto grande vivacidade, e as suas ideias perduraram no nosso pensamento muito além das sete horas que precisámos para terminar o jogo. O diálogo e o guião de Night in the Woods é soberbo, com capacidade para puxar pelo pensamento do próprio jogador.
Em termos de desempenho, Night in the Woods decorreu sem grandes problemas de maior, e pelo contrário, conseguiu impressionar-nos a espaços. A direção artística do jogo é brilhante, e a Infinite Fall conseguiu utilizar alguns efeitos de iluminação para grande efeito. Momentos como o nascer do sol, a luz luar, e um impressionante nevoeiro matinal, são alguns dos detalhes que acrescentam grande atmosfera a toda a experiência.
Dependendo da personagem com que vão passar a tarde, vão aprender e ver situações diferentes. A experiência de jogo varia dependendo das escolhas que tomam, e é um daqueles jogos que, depois de terminado, quisemos voltar a repetir para perceber o que podia mudar. Também existe um grande mistério em Night in the Woods, mas não vamos falar disso - fica para descobrirem sozinhos.
Night in the Woods é como uma mistura bizarra entre Animal Crossing e Twin Peaks, temperado com um pouco de Life is Strange, Alan Wake, e Limbo. Não é uma combinação óbvia, mas resulta bastante bem, tão bem que nos apaixonámos por Night in the Woods. As obrigações morais de Mae, em conjunto com o "mistério" na floresta (que nos assustou e suscitou grande curiosidade), é algo que qualquer jogador que goste de narrativa deve experienciar. É um daqueles jogos Indie que merece o reconhecimento da comunidade de jogadores e dos críticos.
Esta não é uma experiência que vão esquecer depressa, mas falar muito mais sobre o jogo seria prejudicial para a experiência e para vocês. Devem ir para Night in the Woods a saber o menos possível, com exceção de que se trata de um jogo com temas adultos e sombrios, um jogo que fala de cinismo, lealdade, amizade, depressão, e outros tópicos fortes. Fica o aviso em relação ao arranque algo lento de digerir, mas não deixem que isso vos afugente. Night in the Woods é obrigatório.