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Kingdom Come: Deliverance

Kingdom Come: Deliverance

Terá este RPG medieval agarrado o nosso interesse?

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Kingdom Code: Deliverance criou expetativa desde que conseguiu o financiamento no Kickstarter. É um RPG ambicioso, um simulador da era medieval que dispensa elementos de fantasia, tudo com o objetivo de oferecer uma experiência credível ao jogador. O que encontrámos foi um jogo expansivo, um jogo com alguns elementos em que é preciso reconhecer o tremendo trabalho da Warhorse Studios. A credibilidade da atmosfera deste mundo é impressionante, preenchido com algumas personagens interessantes, e é um jogo adulto, sem qualquer pingo de irreverência ou extravagância, algo que raramente encontrámos num videojogo. Por momentos, pensámos que as nossas expetativas seriam correspondidas, mas enganámos-nos.

A nossa frustração e desapontamento tornaram-se completamente concretizadas durante uma secção em particular, um ataque a um campo de bandidos que durou horas, e que é uma das piores sequências que jogámos na memória recente. Atravessámos ondas intermináveis de inimigos, cheios de erros técnicos e comportamentos inapropriados da inteligência artificial, apenas para morrermos em picos absurdos de dificuldade. A sequência finalmente terminou depois de uma batalha terrível com um boss, que nos aniquilou repetidamente como se estivéssemos presos num pesadelo sem fim.

O sistema de combate de Kingdom Come: Deliverance é algo muito único, e a espaços, competente. Durante batalhas de um contra um existe liberdade suficiente para nos manter entretidos e imersos no mundo de jogo, com vários tipos de golpes, tudo na primeira pessoa. Existem várias armas para testarem, num sistema que vai viver da vossa capacidade para defenderem e atacarem nos momentos certos. Infelizmente essa qualidade desaparece durante os combates contra grupos. Quanto enfrentámos vários adversários, mais do que difícil, o combate tornou-se frustrante, e independentemente de ser uma escolha de design ou um acidente, a verdade é que combater múltiplos oponentes em Kingdom Come: Deliverance nunca é uma experiência agradável.

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Pior ainda é o sistema com arco e flechas. Calculamos que disparar flechas na vida real é um exercício difícil, e a Warhorse Studios terá certamente tentado recriar essa dificuldade no jogo, mas mais uma vez, achamos que o estúdio foi longe demais. Uma coisa é tornar a jogabilidade desafiante e interessante, mas quando depois de 30 horas de jogo continua a ser frustrante apontar com um arco, existe um claro problema com a forma como a jogabilidade foi construída. Existe a opção para melhorarem as habilidades, ou até para pagarem por lições no jogo, mas o combate nunca melhora ao pouco de tornar o arco e flecha interessante ou até viável.

Em parte a dificuldade do sistema de combate pode ser um incentivo para o jogador tentar abordagens mais diplomáticas. Existe um sistema de diálogo com múltiplas escolhas, claramente inspirado pelos jogos da Bioware, que funciona bastante bem. Nem todos os diálogos são interessantes ou foram bem escritos, mas encontrámos algumas conversas de boa qualidade. O mesmo aplica-se à prestação dos atores, oscilando entre o bom e o medíocre. E se por acaso achavam que as expressões faciais e as animações faciais de Mass Effect: Andromeda eram más, esperem até verem as de Kingdom Come: Deliverance.

Já repararam que temos várias queixas a apontar ao jogo, mas também temos alguns pontos positivos a realçar. O ambiente, como já referimos, pode ser brilhante, e a estória do protagonista Henry, que interage com vários níveis da sociedade, tem alguns momentos fantásticos. O facto de não incluir qualquer elemento de fantasia pode tornar o jogo excessivamente político e até aborrecido, mas é um caminho raramente percorrido nos videojogos, e por isso tem o condão de ser algo corajoso e original. A Warhorse trabalhou claramente imenso para adaptar a história medieval à estória de Henry, e embora não sejamos peritos históricos, tudo pareceu-nos bastante credível e autêntico. É sobretudo uma estória de vingança, mas existem várias narrativas paralelas e secundárias a acontecer, e se conversarem com as personagens que têm nomes, é provável que acrescentem mais objetivos à vossa lista.

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Gostámos da nossa experiência de exploração do mundo, e as vilas rústicas e enlameadas que visitámos pareceram-nos autênticas. O jogo funciona particularmente bem nessa escala, de aldeias e pequenas vilas, mas quando passa para as cidades, esse realismo perde-se um pouco pelo caminho. Falta vida e população a esses grandes espaços, e a maioria das personagens limita-se a ficar parada no seu canto. Mas, de forma geral, a brutalidade e a severidade da estória é algo que torna a aventura interessante, e vão certamente encontrar muito que fazer ao longo do jogo.

Algumas personagens e temas podiam ser mais subtis ou trabalhados, mas Kingdom Come: Deliverance é claramente um jogo para adultos. Encontrámos problemas, não tanto com a estória, mas com o ritmo em que é apresentada, e alguns eventos dramáticos perderam impacto devido às muitas distrações que aconteceram pelo meio. Considerando os picos de dificuldade que encontrámos em missões de estória, parece-nos óbvio que a Warhorse Studios pretende que o jogador cumpra os objetivos secundários, explore, e evolua bem a sua personagem antes de avançar com a narrativa. Pelo menos existem várias missões interessantes, e a típica fórmula de ir a um sítio recolher um item e regressar não é muito frequente (mas existe). Também apreciámos a liberdade oferecida ao jogador, já que existem sempre várias formas de abordar um problema.

O sistema de saves também não ajuda com o ritmo de jogo. Existem saves automáticos, que acontecem de forma muito espaçada, mas a opção de saves manuais é muito limitada. Basicamente têm de comprar ou criar uma poção para gravarem o jogo uma vez, e essas poções não são baratas. Sem estar diretamente ligado, mas igualmente irritante, é a necessidade de Henry comer. Se tiver fome, Henry fará questão de o mencionar insistentemente, por isso tomem o cuidado de se alimentarem sempre que for preciso, nem que seja para que simplesmente não o ouçam a queixar-se. O mesmo aplica-se ao cansaço, e se obrigarem Henry a passar demasiado tempo acordado, a sua vista começa a fechar e pode adormecer. Também interessante é a forma como as outras personagens reagem a Henry - se estiverem cobertos de sangue não esperem uma receção calorosa, por exemplo.

Em termos de mecânicas RPG, lembra-nos um pouco da série Elder Scrolls, no sentido em que a evolução de Henry está diretamente ligada ao que fazem no jogo. Se combaterem muito, vão melhorar as vossas capacidades de combate; e se falarem muito, vão melhorar as vossas capacidades diplomáticas, por exemplo. Todas estas habilidades e mecanismos estão a trabalhar a partir de um menu que, embora tenha estilo, não está particularmente bem organizado, e pode ser um pouco difícil de navegar. Aliás, isso aplica-se à interface como um todo, longe de ser tão intuitiva como desejaríamos.

É evidente que a Warhorse Studios trabalhou arduamente neste jogo, que é um projeto de paixão da equipa, mas se em algumas áreas brilha, noutras falha espetacularmente. É um jogo extremamente ambicioso, provavelmente demasiado ambicioso para uma equipa tão pequena. Já está disponível uma atualização que resolve alguns dos problemas técnicos e de desempenho, e mais estão prometidas para o futuro, mas mesmo com esta atualização, existem demasiadas falhas para um lançamento definitivo. Em certa medida parece um jogo ainda em produção, um jogo de acesso antecipado, e acreditamos que no futuro pode vir a tornar-se em algo superior, mas neste momento o que temos é um jogo que não cumpriu com as nossas expectativas. Mesmo olhando para tudo o que faz de bem, não podemos facilmente recomendar Kingdom Come: Deliverance, sobretudo neste estado. A solução mais inteligente será esperar uns meses, possivelmente por uma promoção e pelo lançamento de mais atualizações.

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06 Gamereactor Portugal
6 / 10
+
Mundo interessante com boa atmosfera. Muitos sistemas de jogo. Algumas personagens divertidas. Design coesivo.
-
Erros técnicos em demasia. Direção cinemática abaixo da média. Combates em grupo são frustrante. Interface poluída com itens.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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