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Middle-earth: Shadow of Mordor

Middle-earth: Shadow of Mordor

A Monolith Productions conta uma história sombria e original da Terra-média, que consegue divertir e cativar o jogador, sejam ou não fãs de O Senhor dos Anéis.

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Estão dois capitães e meia dúzia de soldados ainda de pé, quando Thrak se junta à batalha. Entretanto já conseguimos despachar metade da barra de saúde de um dos capitães que viemos matar, um guarda-costas de Thrak. E quem é Thrak? É um dos homens (Uruk-hais?) fortes de Black Hand. O Black Hand de Sauron será reconhecível por alguns fãs da obra de Tolkien, e neste jogo é ele o responsável pela tragédia que se abateu sobre Talion, o protagonista. Depois de matar a mulher e o filho de Talion, Black Hand matou o nosso herói, mas em vez de prosseguir para o além, Talion ficou preso num limbo, entre o mundo dos vivos e dos mortos, juntamente com um Wraith. Este espírito de um elfo antigo (Celebrimbor, para quem conhece a obra) é capaz de conceder alguns poderes a Talion, como um sexto sentido e setas espirituais. Além da imortalidade.

Esta história de Talion passa-se em Mordor - casa de Sauron -, entre os eventos de O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Sejamos honestos. Pensámos que esta história não seria algo relevante, já que é uma ponte entre as duas obras criada muitos anos depois, para um formato de videojogos, mas enganámo-nos. O enredo de Shadow of Mordor surpreendeu-nos e fomos cativados pelos acontecimentos do jogo e pelas suas personagens. Como é natural, esta demanda de Talion tem um teor muito mais pessoal que os motivos que levaram Bilbo ou Frodo nas suas aventuras, mas a própria busca de respostas por parte de Celebrimbor é interessante, enquanto procura descobrir a sua identidade e passado. Já agora, para quem não leu a obra [pequeno Spoiler!], Celembrimbor é o elfo responsável pelo forjar dos anéis de poder. Isso pode dar uma indicação da ligação que Shadow of Mordor consegue estabelecer com as obras de Tolkien.

Middle-earth: Shadow of Mordor
Ao montarem um Caragon vão atravessar o mapa em três tempos.

Como podem ter percebido no parágrafo inicial, Shadow of Mordor pode ser um jogo desafiante, ou pelo menos, a espaços. Isto deve-se sobretudo ao brilhante sistema Nemesis, que evolui os nossos inimigos e que promove disputas de poder entre si. Se um Uruk-hai conseguir matar o jogador (serão ressuscitados numa torre, mas o jogo prossegue), será promovido de soldado raso para capitão, e continuará a evoluir. Cada capitão é uma unidade singular, e são caracterizados pelas suas fraquezas e forças. Em teoria, um deste capitães pode continuar a subir pela hierarquia do exército de Sauron e pode travar uma rivalidade com o jogador durante boa parte do jogo. Para derrotarem estes inimigos precisam primeiro de identificar as suas características. Alguns são imunes ou até ficam mais fortes em determinadas situações, que podem ser os pontos fracos de outros capitães. Enquanto alguns têm medo de animais, por exemplo, outros podem ficar motivados quando os vêem. Outros são subjetiveis a ataques furtivos, e podem ser eliminados sorrateiramente, mas também existem outros bem preparados contra esse tipo de iniciativa.

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Este sistema Nemesis acrescenta um certo lado pessoal às batalhas, tornado-as ainda mais interessantes. Existe, contudo, um pequeno lado negativo. Como tudo é gerado aleatoriamente e de forma dinâmica, isto implica que podem encontrar disparidades na dificuldade. Podem, por exemplo, defrontar e eliminar um capitão que vos causou sarilhos, mas as missões de história seguintes podem ser, em comparação, bastante fáceis. Por outro lado, isto também acrescenta personalidade aos inimigos. A maioria dos Uruk-hais que encontrámos eram horríveis, com grande tendência para a violência, mas encontrámos um Uruk-hai bastante simpático, que se perguntava porque não nos podíamos dar todos bem, enquanto ao mesmo tempo tentava esmagar a nossa cabeça com uma moca (o equipamentos e as armas dos capitães varia). Durante a primeira metade do jogo, o principal motivo para prestar atenção ao sistema de Nemesis reside na necessidade de derrubar capitães e, eventualmente, chefes de guerra. Sensivelmente a meio do jogo vão desbloquear uma habilidade chamada Brand, que permite dominar a mente dos oponentes e levá-los a lutar ao nosso lado. Até podem ganhar controlo dos capitães, altura em que o jogo ganha um elemento estratégico, conforme aumentam o tamanho do vosso exército.

Middle-earth: Shadow of Mordor
Três capitães e um chefe de guerra. Isto pode ser complicado...

Quando o jogo foi anunciado, surgiram de imediato muitas comparações com Assassin's Creed, e é fácil perceber porquê. O sistema de torres que desbloqueia parte do mapa, a ação furtiva e a mecânica para trepar paredes, é tudo muito semelhante a sistemas de Assassin's Creed. Já o combate parece mais inspirado em Batman Akrham, enquanto que os campos onde existem inimigos que podem soar o alarme, lembraram-nos de Far Cry 3. Existe muito que Shadow of Mordor vai buscar a outros jogos, mas a mecânica de Nemesis, uma evolução eficaz da personagem e o sistema de runas eficiente, significa que existe aqui conteúdo original suficiente para que Shadow of Mordor se destaque por mérito próprio.

O jogo tem muitos aspetos positivos, mas como Mordor, também existem vários elementos sombrios. Uma das nossas maiores decepções foi o mundo de jogo. Além de não apresentar um design muito coeso, é relativamente pequeno, sobretudo comparando com outros jogos em mundo aberto. Eventualmente vão desbloquear a habilidade de cavalgar Caragons (espécie de lobo gigante), e com isto podem atravessar o mapa de uma ponta à outra em pouco tempo. Até existem missões onde têm de seguir determinadas personagens, e quando perceberem, já atravessaram metade do mapa. A cerca de meio do jogo vão desbloquear uma área nova, que é sensivelmente do mesmo tamanho que a primeira, e que tem a sua própria hierarquia Nemesis.

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Mesmo em conjunto, o tamanho dos mapas é decepcionante, embora existam algumas vantagens nisso, sobretudo porque permite uma relação mais pessoal com os capitães, que de outra forma poderia ficar demasiado dispersa. A primeira área que vão visitar é Udun, que será provavelmente a que se aproxima mais da vossa ideia de Mordor - um local áspero e sombrio. Já a segunda área é um pouco diferente, com um pouco mais de verde, com relva e árvores ao longo de uma costa. É uma mudança de paisagem muito bem vinda, depois de várias horas a olhar para tons castanhos e cinzentos.

Shadow of Mordor não trouxe apenas inspiração de outros jogos, trouxe também problemas semelhantes. Tal como Assassin's Creed, nem sempre consegue ler devidamente a intenção do jogador, levando-nos a subir paredes ou objetos que não queríamos. Também reparámos em algumas falhas técnicas ocasionais, e embora o jogo apresente um aspeto razoável, parece evidente que foram feitas algumas concessões durante o design, de forma a acomodar o jogo nas consolas antigas (versões PS3 e Xbox 360 chegam em novembro).

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Não terão de matar todos os capitães, já que existem disputas mesmo entre si.

Algumas das missões de história também sofrem de um design genérico, enquanto que certas mecânicas parecem ter sido inseridas numa fase algo tardia do desenvolvimento, como as ervas que recuperam toda a saúde de Talion. Existem várias tarefas secundárias que podem cumprir, como encontrar artefatos relacionados com Celebrimbor, ou desafios para recolher X número de plantas ou matar Y número de animais. Tudo isto liga-se a um sistema de progressão, que permite desbloquear novas habilidades. Existe outro sistema paralelo que utiliza Mirian para melhorar os atributos do protagonista, como a sua saúde ou o número de flechas que carrega.

Já falámos da história, e convém referir que é realmente interessante e cativante. A maioria das sequências são interpretadas por atores de qualidade, com argumentos concisos e normalmente diretos ao assunto. Existem ainda muitas referências que farão as delícias dos fãs de Tolkien, não só ao nível de personagens e eventos, mas também de informação extra que podem desbloquear.

Depois de cerca de 20 horas, podemos dizer que apreciámos o nosso tempo na companhia de Talion e de Celebrimbor. Montar Caragons e Graugs, enquanto planeámos formas de derrubar os chefes de guerra e os capitães, desbravando a história e as árvores de habilidades pelo caminho, foi uma experiência agradável e facilmente recomendada. Não precisam de ser fãs de Tolkien para apreciar Shadow of Mordor, mas estes ficarão contentes por saber que é o melhor jogo baseado na sua obra.

HQ
08 Gamereactor Portugal
8 / 10
+
Sistema Nemesis é brilhante. História cativante. Muito que fazer. Bom sistema de progressão.
-
Mundo de jogo é pequeno. Algumas disparidades na dificuldade. Problemas técnicos ocasionais.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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8
Middle-earth: Shadow of MordorScore

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ANÁLISE. Escrito por Bengt Lemne

A Monolith Productions conta uma história sombria e original da Terra-média, que consegue divertir e cativar o jogador, sejam ou não fãs de O Senhor dos Anéis.



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