Child of Light é como uma mistura de Final Fantasy com o Dr. Seuss. A princesa Aurora foi parar ao mundo mágico de Lemuria, depois de ter falecido, o que colocou o seu pai e rei numa espiral de dor, pesar e doença no mundo real. Aurora é uma ruiva corajosa, cujo cabelo balança no vento como que se fosse uma pintura em movimento, e ainda tem esperança de se salvar e ao seu pai. Para isso só tem de encontrar e devolver o sol, a luas e as estrelas a Lemuria, um mundo envolto em escuridão.
Parece um livro para crianças, ilustrado com aquarelas. As melodias, suaves e subtis, complementam perfeitamente o estilo visual e o diálogo decorre todo em versos. A narrativa é apresentada de forma descontraída e é difícil não deixar escapar alguns sorrisos a algumas das parvoíces das personagens. Existe um toque caprichoso ao nível do detalhes (como animais a espreitarem por trás de rochas no cenário enquanto exploram) que por vezes dificulta a percepção do que é interativo e o que não é.
Com um estilo visual tão distinto, pode-se cair na tentação de julgar que Child of Light é apenas um jogo bonito, mas isso está errado. Por trás da arte fantástica, da música atmosférica e das animações inspiradas estão várias mecânicas de jogo muito sólidas.
Child of Light apresenta alguns elementos que lembram a estrutura clássica de Castlevania, no sentido em que os níveis estão cheios de segredos, mas além das asas que ganham na primeira hora de jogo, não existe mais nenhuma evolução de Aurora que lhe permita desbloquear áreas novas no cenário. Em vez disso, o progresso nos níveis acontece através de uma mecânica de puzzles, que envolvem o companheiro leal da princesa, Igniculus (uma espécie de fada/pirilampo que pode ser controlada por um segundo jogador). Igniculus também é importante para o combate, tal como os outros parceiros que Aurora encontra durante a aventura.
O jogo é formado por 10 capítulos, e a aventura no total dura cerca de 10 horas. Cada área nova oferece algum elemento visual para deliciar o jogador, incluindo vários tipos de inimigos. Durante as primeiras horas o combate não é particularmente desafiante, mas eventualmente isso muda e terão de empregar táticas e pensar antes de cada turno. A aventura vai levar-vos de templos flutuantes no céu às profundezas de um oceano, passando pelo coração de uma montanha viva. É uma viagem memorável, com vários momentos marcantes.
Vão encontrar vários segredos, baús e documentos espalhados ao longo dos níveis, dos quais recolhemos sensivelmente metade durante a nossa aventura. Depois de terminarem a história podem continuar a explorar o mundo e tentar resolver potenciais missões que tenham deixado por fazer ou encontrar os colecionáveis que faltarem. Existem vários graus de dificuldade, mas se cumprirem uma aventura a 100%, não terão muita motivação para repetir tudo de novo.
O sistema de combate utiliza uma mecânica por turnos, onde dois membros do grupo (existem vários, que podem ser alternados durante as batalhas) enfrentam três inimigos. De forma resumida, devem encontrar as fraquezas dos oponentes e agir em conformidade, seja contrariando as investidas opostas ou castigando-os com ataques. Igniculus desempenha um papel crucial, já que pode atrasar o ataque dos inimigos, cegando-os com um clarão ou curar os dois membros do grupo. Existe uma boa dose de estratégia, não só em encontrar elementos que contrariem os inimigos, mas no facto de que alguns oponentes são reforçados quando os seus ataques são cancelados ou atrasados. Felizmente, graças a uma série de gemas e poções que podem criar, terão normalmente uma boa dose de opções ao vosso dispor.
Embora a história lide com vários tópicos familiares, é relatada de forma exemplar, genuinamente encantadora. É mais uma história sobre a batalha do bem e do mal, com sangue real nas veias da protagonista e uma madrasta malvada, mas contada desta forma, não nos importamos.
As personagens secundárias são deliciosas e conseguem acrescentar grande dimensão à história.
É um casamento perfeito entre a criatividade associada às produtoras independentes, com os valores de produção das grandes editoras. De certa forma é também uma carta de amor para os RPG japoneses. Sinceramente, é um dos poucos títulos que já jogámos em 2014 que têm obrigatoriamente de jogar.