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Demon's Souls

Demon's Souls - Análise PS5

Não se deixem enganar pelos melhores gráficos que já viram - Demon's Souls vai fazer-vos sofrer.

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Foi em 2009, no Japão (2010 na Europa), que a From Software fez nascer um novo género de videojogos, o chamado "Soulslike", jogos que se distinguem por uma dificuldade elevada, punição severa por cada morte, e o reaparecimento de inimigos a cada infortúnio ou 'checkpoint'. Muitos pensam que foi Dark Souls que deu início a esse género, mas não foi. O verdadeiro Souls original foi Demon's Souls, lançado em exclusivo para a PS3, um jogo que foi agora refeito pela Bluepoint Games (que produziu o remake de Shadow of the Colossus) para o lançamento da PlayStation 5.

A abordagem é idêntica à de Shadow of the Colossus, no sentido em que a Bluepoint Games refez todos os elementos técnicos do jogo, mas deixou a experiência e a jogabilidade idênticas ao original. É diferente de algo como Resident Evil 2, que também funciona como uma re-imaginação, mudando jogabilidade, níveis, e até momentos de história. Aqui vão encontrar exatamente o mesmo jogo que em 2009. A mesma jogabilidade, os mesmos tempos de ataques, os mesmos truques, o mesmo design dos níveis, os mesmos bosses, e os mesmos defeitos. É Demon's Souls em toda a sua essência, mas com um grafismo, uma fluidez, e uma remasterização sonora, de luxo.

O maior impacto é causado pela qualidade gráfica, que coloca Demon's Souls entre um dos jogos visualmente mais impressionantes que já vimos - até talvez o mais impressionante. Se procuram um jogo que grite "nova geração", Demon's Souls é provavelmente o melhor exemplo, embora o segredo não esteja apenas na qualidade do grafismo, mas também na fluidez de jogo. Demon's Souls oferece dois modos gráficos: cinemático, que corre a 4K e 30 frames por segundo, e desempenho, que corre a 1440p esticados para 4K e 60 frames por segundo. Embora a definição seja realmente mais alta no modo cinemático, o impacto dos 60 frames por segundo na jogabilidade e na fluidez da imagem acaba por ser muito mais impressionante. Considerando que o original de PS3 raramente se aguentava nos 30 frames por segundo, estamos a falar de uma diferença brutal em termos de fluidez de jogo entre o original e o remake.

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Demon's Souls

Também é preciso referir que Demon's Souls não utiliza Ray Tracing, mas isso não o impede de apresentar um visual espantoso, servindo-se muito bem de técnicas como Screen Space Reflections e de um soberbo sistema de iluminação para apresentar uma qualidade de imagem impressionante. Os fãs mais fervoroso do original podem não apreciar algumas das mudanças feitas a certos modelos de personagens e inimigos, mas de forma geral parece-nos inegável que este remake é superior ao original em praticamente tudo em termos visuais. O departamento sonoro também foi alvo de muitas mexidas, reforçado por uma banda sonora orquestral ligeiramente mais 'épica', e efeitos sonoros muito mais pujantes e impactantes. Demon's Souls é realmente um mimo em termos audiovisuais.

Então e a jogabilidade? Bem, é Demon's Souls como ele sempre foi, sem tirar nem pôr, com a exceção dos 60 frames por segundo. Se estão familiarizado com Dark Souls, então vão sentir-se em casa com este estilo de ação na terceira pessoa, mais à base de golpes cuidados e ataques críticos do que combinações de golpes. Como se trata de um RPG, isto significa que terão grande liberdade para moldar a vossa personagem (mesmo que escolham uma classe no início do jogo, podem tornar-se algo completamente diferente durante a aventura). Podem investir em magias ou milagres, num guerreiro altamente armado ou num ladrão ágil, e tudo pelo meio. Podem criar uma personagem híbrida que se ajuste a todas as situações, por exemplo.

Ou seja, a jogabilidade é Dark Souls típico, mas o mundo e o design dos níveis apresentam muitas diferenças. Para começar, o mundo não é um enorme mapa interligado, mas antes uma divisão de várias áreas a que podem aceder através do Nexus, que é a zona central do jogo. Demon's Souls também não tem as típicas fogueiras, em vez disso incluindo 'pedras' especiais no início de cada mundo, e depois de cada boss. Isto significa que o sistema de checkpoints é consideravelmente mais punitivo que nos Dark Souls. Existe atalhos que facilitam a navegação pelos níveis, mas de forma geral terão de caminhar mais e atravessar mais inimigos do que é normal nos Dark Souls.

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Isto leva-nos à dificuldade e frustração do jogo. Demon's Souls é um jogo difícil, sobretudo ao início, mas depois de se habituar à jogabilidade (ou se vier de Dark Souls), e à necessidade de ter sempre cuidado, torna-se relativamente fácil no momento-a-momento. Mais que difícil porém, Demon's Souls é frustrante e extremamente punitivo em relação às mortes, sobretudo porque, como já referimos, em alguns níveis terão de atravessar bastante terreno até chegarem aos bosses (ou ao sítio onde ficaram as vossas almas da última vez que morreram). O facto dos loadings serem quase instantâneos ajuda a atenuar essa frustração, mas é, ainda assim, algo que devem ter em conta antes de investir em Demon's Souls.

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Existem outras peculiaridades neste jogo que não estão nos Dark Souls, como as ervas de saúde que foram substituídas pelos frascos nos jogos seguintes, e o inventário limitado (a Bluepoint acrescentou a possibilidade de enviar itens para o armazenamento no Nexus). Uma das maiores diferenças, contudo, é o sistema de Tendência. Cada nível - e a personagem - tem a sua própria tendência, que é influenciada de acordo com o que acontece no jogo. Matar um boss eleva a tendência para o lado da luz, mas morrer em forma humana atira a tendência para o lado das trevas. Se alcançarem um dos extremos, como tendência máxima da luz, irão desbloquear caminhos, bosses, e eventos especiais nos níveis.

É um sistema algo confuso, que o jogo não explica realmente, e que acabou por ser retirado nos Dark Souls. Aliás, é evidente que Demon's Souls é um jogo mais experimental, mais bizarro e peculiar, que serviu para a From Software afinar o que viria a tornar-se Dark Souls. Nem tudo resulta, como o sistema de checkpoints excessivamente espaçado, o obtuso sistema de tendências, e a saúde à base de ervas (o sistema de frascos que se regeneram permitir equilibrar o jogo de forma muito mais precisa), mas de forma geral estamos a falar de um jogo soberbo.

Para o bem e para o mal, a Bluepoint Games decidiu refazer Demon's Souls tal e qual como era, e nós preferimos assim. Se é perfeito? Não, e nem sequer é o melhor "Souls", mas é um jogo muito peculiar que merece ser experienciado tal e qual como ele foi originalmente desenhado. E o facto de agora ser possível fazer isso sem ecrãs de loadings, e com grafismo e som do melhor que existe, é simplesmente fantástico. Apenas tenha em conta que pode ser uma experiência extremamente frustrante, embora igualmente recompensadora.

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09 Gamereactor Portugal
9 / 10
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Continua a ser uma experiência fantástica. PS5 permite um grafismo muito superior, jogabilidade mais suave, som melhorado, e loadings quase inexistentes. Recebeu modo de fotografia.
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O original foi muito experimental, e nem tudo funcionou - isso continua a ser verdade para o remake. O sistema de tendência é obtuso. É provavelmente o Souls mais frustrante.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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