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Grande Entrevista com Phil Spencer

O líder da Xbox falou sobre exclusividade, monetização, e o futuro em geral da Microsoft na indústria dos videojogos.

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Hoje em dia é difícil imaginar a Xbox sem a participação de Phil Spencer. Foi ele o principal responsável pela recuperação da marca junto dos jogadores depois de um lançamento aquém as expetativas da Xbox One. Com um foco muito claro e objetivo nos jogos e nos jogadores, Phil Specer é hoje visto como um dos grandes nomes da indústria de videojogos, e lidera de perto projetos como a Xbox Series X|S, o Game Pass, e o xCloud. Agora, a poucos dias do lançamento da nova geração de consolas Xbox, tivemos a oportunidade de conversar com Phil Spencer sobre vários tópicos.

A Microsoft tem investido profundamente na aquisição de novos estúdios. O que levou Phil Spencer a 'acordar um dia' e decidir comprar estúdios?
Se pensar nos últimos anos da Xbox 360 e nos primeiros anos da Xbox One, recordo que enquanto companhia não estávamos a investir o suficiente nas capacidades criativas dos nossos estúdios, e isso notou-se. Mas a questão é que a produção de videojogos demora muito tempo, o que significa que se não investirmos o suficiente, não vamos ver resultados num ou dois anos, mas antes em três, quatro, ou até cinco anos.

Nessa altura tinha a sensação de que estávamos a investir pouco, e como era responsável pelos estúdios Microsoft, era algo que eu conhecia diretamente. Quando consegui este trabalho [Vice-Presidente Executivo dos Videojogos na Microsoft], procurei colocar esse negócio numa boa condição, com o apoio da companhia. Depois disso construímos um modelo de negócio que dava prioridade ao investimento no conteúdo, conscientes de que teríamos de investir bem ao início e esperar para recolher os frutos.

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Ou seja, nunca houve algo tipo "acordar numa manhã", foi antes algo que eu sentia naquela altura. Depois foi uma questão de nos encontrarmos numa posição que nos permitiu encontrar os parceiros certos e o apoio da companhia. Estou realmente entusiasmado, sobretudo agora com a eminente aquisição da ZeniMax, que elevará o nosso número de estúdio para 23.

A Microsoft parece ter grande qualidade e variedade nos seus estúdios, mas há ainda algum tipo de jogo que não esteja coberto, e que desejasse incluir?
Olhando para os que os jogadores de Xbox estão a jogar, e para o que os assinantes de Game Pass estão a jogar, parece-me que falta algum conteúdo casual ao nosso portfólio, para conseguirmos um apelo maior entre as massas. Conteúdo classificado como E [para todos, na ESRB], não é o nosso ponto forte. Temos, claro, Minecraft e mais algumas licenças, mas acredito que é muito importante expandir a criatividade das nossas equipas.

Equipas capazes de construir novas sagas e de contar novas histórias, são sempre muito procuradas. É por isso que estou muito entusiasmado com projetos como Starfield [Bethesda Game Studios] e o próximo jogo da Compulsion, porque eu gosto de equipas que pensem em novas criações. E também, à medida que o Game Pass cresce, temos de continuar a alimentá-lo. Ou seja, com o tipo de crescimento que estamos a ver, tenho a expetativa de que estejamos constantemente neste modo de trazer novos criadores para nós.

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Recentemente afirmou que já não faz sentido lançar jogos da Microsoft na Nintendo Switch. Porquê, e como tem mudado a sua perspetiva em termos de exclusividade de Xbox e PC ao longo dos anos?
Em primeiro lugar acredito que os grandes jogos devem ser jogados pelo maior número possível de pessoas. Acredito realmente nisso, porque adoro a forma de arte que são os videojogos, com a sua interatividade, e com toda a comunidade à sua volta. Adoro o facto dos videojogos ultrapassarem barreiras políticas, geográficas, religiosas, e socioeconómicas, porque online, eu sou apenas mais um jogador do Xbox Live, como somos todos, e isso é algo fantástico que a indústria tem. E isto não é algo da Xbox, mas de toda a indústria. Ou seja, parte da nossa estratégia na Xbox passa por permitir que os jogos sejam jogajos pelo maior número de pessoas possível.

Claro que isto levanta questões acerca desta ou daquela plataforma fechada [PlayStation e Nintendo], e o que posso dizer é que ou estamos inteiramente investidos nessas plataformas, ou não estamos de todo. Penso que não é saudável, sempre que aparece um jogo da Microsoft, ter de responder se vai sair na Switch, e isto não tem nada haver com a nossa relação com a Nintendo, que eu adoro. Tem de existir esta expetativa por parte dos consumidores, como existe agora no PC, em que essas questões não se colocam realmente. Podem existir coisas relacionadas com timing, mas se estamos a lançar um jogo, vai sair no PC, e se vai sair no PC, vai sair na nossa loja e no Steam. É esse o meu objetivo, embora claro, existem pequenas anomalias de vez em quando. Por exemplo, há cinco anos eu dizia que estávamos muito empenhados no PC, e muitas pessoas rolavam os olhos, o que realmente não podíamos condenar, porque nessa altura não tínhamos feito muita coisa. Mas olhando para a nossa posição no Steam e no Game Pass de PC, penso que provámos o nosso empenho com a plataforma. Os jogadores de PC podem, ou não, adorar o que fazemos, mas têm a certeza de que quando vamos lançar algo, vamos fazer um esforço tão grande no PC, como na Xbox.

Mas o que pensa da exclusividade em geral? Não existem certas vantagens de ter os estúdios só a trabalhar numa ou duas plataformas?
A curto prazo, sim, há, mas eu gosto de pensar a longo prazo, já que isso pode rapidamente tornar-se na utilização dos jogos exclusivos como armas, uma espécie de "meu contra o teu". E sim, os jogos exclusivos em plataformas fechadas são uma ferramenta de marketing que pode ajudar a vender essas plataformas, porque são bons a gerar entusiasmo. Olhemos para o próximo mês, em que PlayStation e Xbox vão lançar novas consolas. Vamos ambos lançar tantas consolas quanto possível, e eu vou prever que as duas companhias vão vender todas as consolas fabricadas até ao fim de 2020. Se eu tivesse outro exclusivo, possivelmente o máximo que conseguia era vender o mesmo, mas mais depressa.

Eu acredito que o entusiasmo em torno dos videojogos em geral é maior do que o entusiasmo gerado por jogos exclusivos, sobretudo agora com a situação do COVID-19, que aumentou o nível de interação das pessoas com videojogos. É verdade que os exclusivos podem render grandes jogos, mas numa perspetiva maior, os videojogos não estarão melhores se mais pessoas conseguirem jogar os jogos do nosso ecossistema? Eu acredito que sim. É por isso que, neste momento, se tiver um PC, uma Xbox, ou um smartphone Android [via xCloud], pode jogar os nossos jogos.

Olhamos para a Xbox como um ecossistema, não como uma consola, e nós queremos que as pessoas joguem Xbox, seja num smartphone Android, numa Switch, ou num PC. É isso que queremos.

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A aquisição da ZeniMax abalou a indústria, pelos valores, estúdios, e licenças envolvidos. O que esperar a Microsoft conseguir com esta aquisição, sobretudo a longo prazo?
Bem, primeiro que tudo preciso de esclarecer que ainda não adquirimos a ZeniMax, mas antes, anunciámos a nossa intenção de adquirir a ZeniMax. A aquisição ainda está a atravessar o habitual período de aprovação por parte das autoridades, mas acreditamos que não existem problemas, e esperamos que a aquisição se oficialize no início de 2021. Digo isto também para que as pessoas saibam que não me estou a sentar com Todd Howard e Robert Altman a planear o seu futuro, porque isso nem sequer é legal.

Em relação ao que eu quero a longo prazo, eu quero que estes estúdios fantásticos criem os melhores jogos que alguma vez criaram. O Todd Howard e eu conhecemos-mos há vários anos, e já tínhamos falado desta parceria. Olhei-o nos olhos e perguntei, 'ok, vamos mesmo fazer isto?', e ele respondeu, 'Quero produzir os melhores jogos que alguma vez produzi, e quero o apoio da Microsoft para conseguir isso.' Acreditamos que se passará o mesmo com estúdios como a Arkane, a id Software, e a Machine Games. Quero apoiá-los para que conseguiam o melhor trabalho possível.

Muitos estúdios implementam mecânicas monetárias nos seus videojogos, com expansões, pacotes de conteúdo, micro-transações, e assim por diante. Existe alguma estratégia geral da Microsoft em relação a isto, ou depende do estúdio?
Não ditamos nada em relação ao modelo de negócio dos jogos que estão a ser produzidos, mas posso dizer que acredito que é saudável para a indústria que existam modelos diferentes de negócio. Penso que o retalho é uma peça importante dos videojogos, a compra de jogos, e isso é algo que quero que continue saudável, mas também vimos crescimento em serviços de subscrição como o Game Pass, e o modelo free-to-play é enorme. Penso que existem outros modelos de negócio que podemos trazer para os videojogos, que podem potencialmente ajudar, e como tal, gostaria de experimentar com alguns modelos diferentes com os jogos dos nossos estúdios. Não seria saudável ter um modelo que dominasse todos, porque se assim fosse, esse modelo seria o free-to-play, porque é claramente o maior modelo de negócio hoje em dia. Mas acredito que isso não é saudável, queremos que os jogadores tenham escolhas em como interagem e pagam pelos jogos que estão a jogar.

Por exemplo, eu sei que existe quem presuma que jogos-como-serviço [Destiny, Anthem, The Division] seriam melhores para o Game Pass, para agarrarem os jogadores a longo prazo, mas na verdade eu defendo que é o oposto. A última coisa que eu quero no Game Pass é um jogo que todos estão a jogar para sempre. Isso não é um serviço de subscrição, isso é um jogo com subscrição, como o World of Warcraft. Queremos jogos com princípio, meio, e fim, para que possam depois avançar para o próximo jogo, como títulos a solo à base de narrativa. Eu acabei recentemente Tell Me Why, que é um jogo fantástico da DontNod, e acredito que esses jogos são muito fortes num serviço de subscrição. Quero uma longa lista de títulos que as pessoas estejam a jogar, com grande diversidade, desde grandes histórias a jogos online. Até gostaria de ver mais jogos a solo dos nossos estúdios, porque de certeza forma crescemos de forma orgânica para uma companhia focada em jogos multijogador.

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É inegável o sucesso do Game Pass, e também a sua excelente relação qualidade/preço, não só na Xbox, mas também no PC e nos sistemas Android. Já falámos acerca de exclusivos noutras consolas, mas e o Game Pass? É algo que interessa colocar na PlayStation ou na Switch? Quem é que precisa de ser convencido para que isso aconteça? È a Microsoft, ou é Sony e Nintendo?
Como já referi, a nossa prioridade passa por chegar a mais jogadores. Depois da Xbox, fomos atrás do PC, porque existem muitos jogadores nesse espaço que não têm uma Xbox. A seguir perseguimos o espaço dos dispositivos Android, porque existem mil milhões desses em todo o mundo, o que é muito maior do que qualquer base de consolas. Nesse sentido, é natural que eventualmente cheguemos aos sistemas iOS, e depois disso, temos mais opções. Existem as Smart TV, os Chromebooks, as FireTV... Eu honestamente adoro a Switch, e adoro a PlayStation, e penso que têm feito um trabalho fantástico enquanto parte desta indústria. Não tenho a certeza se estão aí os nossos próximos grandes conjuntos de utilizadores, mas poderíamos estar disponíveis a essas conversas.

Para terminar... que projeto dos estúdios Microsoft, que ainda não foi anunciado, mais o entusiasma?
Vou referir dois, ok? Um deles é da Compulsion Games, os criadores de We Happy Few, que tinha um estilo de arte e um ambiente realmente únicos. É um estúdio ainda novo, que ainda está a crescer muito e a aprender melhor a sua arte, e as suas possibilidades como equipa. Mas olhando para o que estão a fazer agora... eu adoro a sua capacidade para criar mundos novos e únicos.

Outro de que posso falar é o projeto da The Initiative, o novo estúdio em Santa Mónica. Eu já joguei o que eles estão a fazer, e o tipo de talento que conseguimos trazer para este estúdio, liderado por Darry Gallagher, é fantástico. É o que acontece quando se junta um grupo tão impressionante de criadores, e se cria uma cultura como a que Darryl está a criar na The Initiative. Vai ser divertido anunciar o jogo em que estão a trabalhar.

A Xbox Series X e a Xbox Series S chegam a 10 de novembro a Portugal, a primeira por € 499,99, e a segunda por € 299,99. Também pode ver o nosso comparativo das duas consolas aqui.

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