Admitidamente não tinhamos expectativas altas para este filme de Mortal Kombat. Do jogo, da série, criada por Ed Boon e tão bem alimentada ao longo dos últimos anos pela Netherrealm Studios, somos grandes fãs, mas um realizador estreante, um elenco desconhecido, e um orçamento relativamente baixo, fizeram-nos duvidar do que podia ser feito no filme. Dificilmente seria capaz de impressionar, e foi exatamente isso que aconteceu.
Esta adaptação da história toma algumas liberdades criativas, em termos de personagens, e de explicações para os poderes das personagens, mas ao mesmo tempo consegue estar abarrotada de 'fan service', e em momentos consegue captar realmente a essência de Mortal Kombat. É nesses momentos que o filme está no seu melhor.
Uma das maiores liberdades criativas é a introdução de Cole Young, uma personagem inédita que está presente para servir de âncora para quem não conhece Mortal Kombat. Cole é um lutador de artes marciais mistas, que depois de ter ganho algum destaque, acabou a lutar em combates clandestinos. Pior ainda, está a perder combates, porque o 'fogo' e a paixão desapareceram. É que combater em torneios destes não é o propósito de Cole. Nem de Cole, nem de ninguém com a marca do torneio Mortal Kombat.
Eventualmente, Sonya e Jax acabam por encontrar Cole, e juntos decidem investir que torneio é este, e como é que existe alguém capaz de criar gelo com as suas próprias mãos. É aqui que entra Raiden, Liu Kang, e Kung Lao, que irão explicar ao grupo como é possível ter poderes sobrenaturais, e o que devem fazer para desbloquearem o seu poder. No jogo não existe nada disto, de explicações, mas o realizador e o guionista entenderam que era necessário explicá-lo.
Uma das melhores cenas do filmes é precisamente a primeira, com as origens de Sub-Zero e Scorpion. Bem, dizemos "origem", mas a verdade é que o filme não explica o porquê da rivalidade entre estas personagens e estes clãs. Eis que, mais tarde, chegamos ao segundo ato, e o filme despeja exposição em cima do espetador através de Raiden. É um processo muito descuidado, trapalhão até, resultado de uma estrutura pouco equilibrada do guião. Os jogos ao menos sabem que não se devem levar muito a sério, mas parece que os produtores do filme nunca perceberam isso.
Mortal Kombat salta constantemente entre espaço e tempo, interrompendo as lutas para apresentar exposição de uma narrativa lenta e forçada. Ao guião fraco e mal estruturado juntam-se algumas interpretações muito fraquinhas de alguns atores, e efeitos especiais que alternam entre o muito bom e o muito mau. Existe aqui grande discrepância entre algumas cenas.
Não esperávamos muito de Mortal Kombat, e mesmo assim ficámos desiludidos. Existem alguns pontos positivos, e os fãs vão certamente apreciar referências e surpresas, mas no fim das contas existe muito pouco para celebrar em relação a Mortal Kombat. Com um guião fraco, invenções desnecessárias para a história, e lutas que nem são assim tão bem coreografadas quanto isso, Mortal Kombat só pode mesmo ser recomendado a quem não se importa de suportar um mau filme pelos seus raros bons momentos.