Depois da apresentação da Nintendo Switch durante a madrugada de dia 13 de janeiro, o Gamereactor foi convidado a marcar presença num evento em Londres para testar a nova consola. Chegámos ao local com expetativas cautelosas, porque embora a Nintendo já tenha provado que sabe desenhar e criar hardware criativo e inovador, não conseguimos afastar a sensação de que a Nintendo Switch é uma última tentativa por parte da empresa para se manter relevante no mercado das consolas. Com o falhanço da Wii U, e as hipóteses para hardware da 3DS praticamente esgotadas, a Nintendo parece apostar tudo nesta Switch, que pode muito bem ser a consola mais ambiciosa que a editora japonesa já criou. Há quem diga que, se tudo correr mal, também pode muito bem ser a última, mas a ver vamos.
O conceito parece um sonho tornado realidade, uma consola que também funciona como portátil e que até suporta um ecrã tátil. É um design típico da Nintendo, no sentido em que mostra ambição, inteligência, e propósito com cada curva, botão, e função. Mais importante que isso, é uma consola com um apelo muito claro, sobretudo porque cumpre os seus objetivos. A consola em si é o elemento portátil, que parece quase o GamePad da Wii U, mas tudo isso já conhecíamos da revelação da consola em outubro. As verdadeiras estrelas desta nova apresentação acabaram por ser os Joy-Con, comandos inovadores que abrem várias oportunidades interessantes de jogabilidade. À semelhança de outras tecnologias inovadoras, não basta aos comandos parecem interessantes. A Nintendo terá de provar que, ao longo dos anos, vai continuar a explorar o potencial destes Joy-Con.
A consola atinge o seu potencial máximo em termos de poder quando está atracada à base, e os jogos que vimos tinham excelente aspeto na televisão. Não são portentos técnicos com grandes efeitos de luz em tempo real, ou texturas foto-realistas, mas a Nintendo sempre foi uma editora mais preocupada com o estilo, a arte, e o design, e nesse aspeto não temos razões de queixas em relação ao que vimos no evento. Mas para falarmos em termos mais técnicos, podemos usar The Legend of Zelda: Breath of the Wild como exemplo. O jogo vai correr com uma resolução de 720p e 30 frames por segundo em modo portátil, enquanto que em modo consola, Zelda vai correr a 900p e 60 frames por segundo. A resolução de 720p pareceu-nos mais do que suficiente para manter uma boa qualidade gráfica num ecrã de 6.2 polegadas, que é o tamanho do ecrã da Switch.
O ecrã em si é encantador, capaz de produzir um grafismo brilhante e colorido. Experimentámos Splatoon e Mario Kart em versão portátil, e ambos funcionaram na perfeição, incluindo ao nível do desempenho. Sim, nenhum dos jogos parece ser muito exigente com o hardware, mas gostámos do aspeto de ambos no ecrã. A Switch em si pareceu-nos grande o suficiente, e o tamanho extra do ecrã em relação a algo como um smartphone, uma 3DS, e até a PS Vita, faz toda a diferença do mundo. Jogar Switch em modo portátil foi confortável, embora seja necessário um período de adaptação tal como o foi para o GamePad da Wii U, mas ultrapassada essa fase, funciona bem e é confortável.
A consola é sólida, e tem um peso interessante que não chega a ser excessivo - não parece de todo feita com materiais baratos. Quando em modo portátil, os dois Joy-Con ficam encaixados nos lados da Switch, e que maravilha são estes comandos. Além de terem botões com fartura, os Joy-Con também escondem várias funções adicionais. Podem ler amiibos, tirar imagens da jogabilidade, servir como sensor de movimentos, proporcionar vibração com um detalhe sem precedentes (a Nintendo chama-lhe HD Rumble), e usados como um comando convencional, ou como dois mini-comandos. O jogo que melhor mostrou as capacidades de vibração do Joy-Con foi 1-2-Switch, com uma série de mini-jogos curiosos. Um desses mini-jogos pedia-nos para virar lentamente o Joy-Con, como se estivéssemos a desbloquear um cofre à espera do ponto certo. Outro mini-jogo envolveu movimentar uma caixa com berlindes lá dentro, e a sensação que o Joy-Con transmite dos berlindes a balançarem de um lado para o outro é impressionante.
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Os sensores de movimento são também muito sensíveis e precisos, replicando ao pormenor as nossas ações com o Joy-Con. À semelhança dos Wiimote e PS Moves, os Joy-Con também incluem fitas para prender o comando ao pulso (para não os atirarem à televisão durante momentos de maior entusiasmo). Em comparação com as fitas dos Wiimote, as do Joy-Con pareceram-nos mais leves e confortáveis. Como já referimos, os Joy-Con podem servir como dois pequenos comandos independentes, ou como um comando mais tradicional com dois analógicos. Neste modo podem segurar um Joy-Con em cada mão, ou ligá-los a um suporte que permite assumir uma forma mais tradicional. Mesmo nessa forma de comando, a qualidade dos Joy-Con mantém-se, e não sentimos qualquer problema em jogar Breath of the Wild neste formato, embora os comandos de PS4 e Xbox One pareçam ligeiramente superiores aos Joy-Con nesse formato específico. Mais importante foi perceber que em nenhum momento ou forma os Joy-Con nos pareceram desconfortáveis ou ineficazes, fosse em conjunto com a Switch, em modo separado, em cada mão, ou no suporte oficial.
A Nintendo Switch é uma peça de hardware impressionante, com um potencial tremendo, mas não é tudo um mar de rosas para a nova consola. A lista de jogos de lançamento é francamente fraca, e aquele que é de longe o jogo mais interessante - The Legend of Zelda: Breath of the Wild -, também vai sair na Wii U no mesmo dia. Com esta opções tão limitadas, torna-se mais difícil justificar a compra da Switch no dia de lançamento, sobretudo se já tiverem a Wii U. O 1-2-Switch parece interessante como uma coleção de mini-jogos que mostram o potencial dos Joy-Con, mas é difícil pensar neste produto como um jogo isolado. O 1-2-Switch devia estar incluído com a consola, tal como o Wii Sports estava incluído na Wii original. Existem outras opções, como Just Dance 2017 da Ubisoft, mas a rampa de lançamento da Nintendo Switch deixa a desejar.
A maioria dos outros jogos anunciados para a consola já foram lançados noutras plataformas (alguns há vários anos, como Skyrim), são versões ou semi-sequelas de jogos de Wii U (como Mario Kart 8 e Splatoon 2), ou estão ainda muito distantes (casos de Super Mario Odyssey, Xenoblade Chronicles 2, Fire Emblem Warriors). Esperávamos mais jogos, e em particular, mais exclusivos da Nintendo. Não precisavam todos de sair em março, ou até este ano, mas mostrar um vislumbre de Metroid, Donkey Kong, Bayonetta, Super Smash Bros., e Animal Crossing, teria-nos deixado muito mais confiantes quanto ao futuro da consola. Seriam uma garantia de que a Nintendo tem preparado para o futuro a médio prazo, e isso não aconteceu. Esperemos que a E3 corrija a situação.
Existem outros pormenores que nos deixam apreensivos, como a ausência de aplicações externas, o serviço online e o tamanho da memória interna. Apenas 32 GB de raiz é algo difícil de aceitar para os dias que correm, sobretudo numa era de constantes atualizações, expansões, e afins. O facto da consola não suportar aplicações como Twitch, Youtube, e Netflix de raiz, algo que seria fantástico de aproveitar no formato portátil da Switch, é também uma ausência alarmante - sobretudo considerando que até a própria Wii U já suportava estas aplicações. A outra questão pertinente em relação à Switch é o serviço online, do qual sabemos pouco à exceção de que a partir do outono grande parte das funções ficarão bloqueadas por uma subscrição. Não sabemos o que a Nintendo está a preparar, talvez algo genial que envolva os Miis ou outras funções interessantes, mas para já não estamos convencidos com o que sabemos. A consola parece depender demasiado da aplicação que será lançada para dispositivos Smart (inclusive para comunicação por voz), e a oferta de um jogo SNES ou NES por mês - e apenas durante um mês -, é francamente escasso quando comparado com o que PS Plus e Xbox Live Gold oferecem.
O hardware está lá, e honestamente, o preço de € 329.99 (parece ser o consenso na maioria das lojas) não nos incomoda demasiado. Mas a Nintendo tem ainda muito trabalho pela frente para enriquecer a experiência que esta máquina merece. É uma consola inovadora, elegante, e com um apelo muito peculiar, mas falta o resto. Esperemos que a Nintendo consiga corrigir algumas destas falhas nos próximos meses, porque a Switch definitivamente merece-o.