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Quando adiar um jogo é a melhor solução

Watch Dogs e Driveclub foram adiados para 2014, mas por vezes é pelo melhor.

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Os adiamentos são, infelizmente, um mal necessário na produção de videojogos, mas raramente resultam de decisões tomadas com ânimo leve. Veja-se o caso de Watch Dogs, por exemplo. Exibido pela primeira vez na E3 2012, deliciou os jogadores com um conceito inovador e parecia quase como um olhar antecipado ao que a nova geração pode oferecer. É um jogo para o qual a Ubisoft tem grandes expetativas. Num relatório financeiro chegaram a apontar previsões para vendas acima dos 6 milhões de unidades, mas também parece óbvio que nunca chegariam a esse número com um jogo potencialmente coberto de falhas. O Gamereactor teve a oportunidade de experimentá-lo em várias ocasiões, mas nunca conseguimos esconder alguma preocupação, porque não parecia haver tempo suficiente para polir o jogo devidamente.

Quando adiar um jogo é a melhor solução
Watch Dogs foi adiado para 2014

A isso acrescentem o facto do jogo estar sempre a correr no PC, e não numa das consolas de nova geração, ou que nunca foi possível explorar a cidade de Chicago livremente, apenas experimentar algumas secções muito específicas de certas missões. O jogo estava claramente a precisar de mais tempo. Normalmente a Ubisoft resolve a questão com um reforço da equipa de produção e uma enorme atualização do jogo no dia de lançamento (como foi o caso de Assassin's Creed III), mas pelos vistos isso não era suficiente para resolver todos os problemas de Watch Dogs.

O que não deixa de causar outros problemas à Ubisoft. Basta pensar que já tinha sido anunciado um pacote da PlayStation 4 com o jogo e o próprio CEO da editora, Yves Guillemot, já tinha referido a importância de arrancar a próxima geração de consolas com uma nova série. É uma situação difícil para qualquer empresa, mas é bom ver que a Ubisoft teve a coragem necessária de desiludir jogadores, editoras e investidores em prol de criar um produto superior.

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Driveclub vai falhar o lançamento da PlayStation 4, esperemos que por bons motivos.

O caso de Driveclub, um exclusivo da Sony para a PlayStation 4, não é muito diferente. Este jogo de condução da Evolution Studios (produtora de Motorstorm), liderava a promoção do serviço online PlayStation, o PlayStation Plus. Tratando-se de um exclusivo de lançamento, o seu adiamento foi também sério. Foi Shuhei Yoshida, presidente da Sony Worldwide Studios, quem confirmou o atraso através do blog oficial Playstation, o que indica bem a seriedade da situação.

Algumas produtoras são famosas por raramente cumprirem as datas de lançamento, mas desde que no fim o adiamento seja compensado com um produto de qualidade, as editoras tendem a perdoar a situação. Mesmo que não seja ideal gastar mais dinheiro num projeto do que foi inicialmente planeado, a ideia de lançar um jogo incompleto ou cheio de problemas pode acabar por causar danos ainda mais graves na marca e na editora em si.

O caso ideal de um adiamento de sucesso é Batman: Arkham Asylum. Produzido pela Rocksteady Studios, o jogo foi publicado pela Eidos, que estava a atravessar uma fase problemática na altura. Quando a Square-Enix finalmente comprou a editora em 2009, decidiram adiar o lançamento original de Batman: Arkham Asylum em junho para agosto. O resultado é o que todos conhecemos, o nascimento de uma série fantástica e uma experiência de jogo refinada.

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Batman: Arkham Asylum mostrou que por vezes, o adiamento é o melhor curso a seguir.

Ironicamente, a licença foi cedida pela Eidos à Warner Bros., que entretanto adquiriu também a Rocksteady Studios e publicou Batman: Arkham City. A realidade é que dois meses de produção podem fazer uma grande diferença na qualidade final de um jogo.

Por outro lado, um adiamento pode também significar que o jogo não está a apanhar o rumo esperado. Pode não ser apenas um caso de limar as arestas e resolver falhas técnicas, já que existem exemplos de jogos que foram adiados por várias situações e mesmo assim acabaram por ser um desastre, como Aliens: Colonial Marines. O adiamento de um projeto pode ser um sinal de duas situações: ou é um excelente jogo que precisa apenas de mais algum tempo para brilhar como é suposto, ou então a produção está a correr mal e não estão a conseguir atingir a qualidade esperada.

Quando adiar um jogo é a melhor solução
Não houve adiamento que salvasse Aliens: Colonial Marines...

Pode-se dizer que cada adiamento é um caso singular, mas existem sinais que se podem identificar. Os atrasos são comuns em projetos muito ambiciosos, onde o design do jogo está a ser constantemente trabalhado (algumas produtoras de maior renome, como a Blizzard, simplesmente declaram que "o jogo será lançado quando estiver pronto) ou projetos que, por uma razão ou outra (conceito faltoso, falta de experiência, gestão medíocre), são um autêntico desastre, onde o adiamento apenas serve para adiar o inevitável. Também existem casos onde os adiamentos se devem a motivos legais ou razões estratégicas, relacionadas com o mercado, mas estes são mais raros.

E depois existem jogos que obrigam todos os outros a reverem os seus planos. Quando a Rockstar decidiu adiar Grand Theft Auto V para afinar o jogo, causou uma onda de choque por toda a indústria. Muitas editoras decidiram deixar o mês original de lançamento, maio, em paz, mas a nova data para setembro veio mudar tudo. A decisão da Volition, para lançar Saints Row IV em agosto, permitiu-lhes evitar a chegada colossal de GTA V, mas se não fosse isso, provavelmente teria tido mais um ou dois meses de produção.

Quando adiar um jogo é a melhor solução
O adiamento de Grand Theft Auto V teve impacto por toda a indústria.

Por vezes a indústria de videojogos é injustamente comparada à indústria do cinema, onde os prazos são cumpridos com maior regularidade, mas existem mecânicas mais complexas neste lado da barricada. Até certo ponto, os jogadores sabem que têm de ser pacientes e permitir estes adiamentos - para bem do próprio jogo. Mas também só beneficiam se souberem identificar quando esses atrasos se devem a problemas graves na produção de videojogo.



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