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The Last of Us: Parte II

The Last of Us: Parte II - Review

Nem os spoilers estragaram esta sequela intensa, emocional, e acima de tudo, corajosa.

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The Last of Us: Parte II

Controvérsia, leaks, spoilers, adiamentos... o ciclo de produção de The Last of Us: Parte II teve de tudo um pouco, mas pedimos-lhe que ponha tudo isso de parte. Sim, muitos dos spoilers são reais, ainda que alguns não o sejam, mas independentemente do que leu, viu, ou ouviu, não julgue The Last of Us: Parte II sem o jogar. A Naughty Dog merece o benefício da dúvida por tudo o que fez no passado, e Ellie também.

Estamos, afinal, a falar de um dos melhores estúdios de videojogos do planeta, que já nos proporcionou entretenimento da maior qualidade, e The Last of Us: Parte II não é exceção.

Mas o que é exatamente The Last of Us: Parte II? Pode dizer-se que é uma continuação direta do primeiro jogo, ainda que se passe vários anos depois, mas eventualmente torna-se na sua própria história e aventura, uma história que é um verdadeiro carrossel de emoções. Ao longo das muitas horas que dura The Last of Us: Parte II, sorrimos, chorámos, assustámos-nos, agoniámos, e até ficámos chocados com o que vimos, mas acima de tudo, deliciámos-nos com uma narrativa moderna, corajosa, e imprevisível, com muito mais para ver do que foi resumido de forma simplificada e desonesta pelos spoilers.

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Não é todos os dias que aparece uma história tão real, tão crua, e por vezes, tão desagradável, não só nos videojogos, mas em qualquer meio. The Last of Us não foi um jogo de "heróis", mas a sequela ainda o é menos. Ninguém é perfeito neste mundo, e vão existir momentos em que não concordará com as ações das personagens, incluindo Ellie. The Last of Us: Parte II e as suas personagens não estão aqui para o fazer sentir bem, apenas para o fazer sentir, e isso consegue-o de forma exímia, graças a excelente direção, guião, e interpretações.

É por isso uma história corajosa, mas também moderna, na forma como retrata o mundo complexo em que vivemos hoje em dia. É um mundo diversificado, onde existem pessoas heterossexuais, homossexuais, e outras que lutam com a sua própria identidade sexual. Isto não é o foco da história, mas faz parte deste mundo, e não é forçado ou empurrado pela garganta do jogador. Ao contrário de muitos meios que cometeram o erro de promover feminismo e diversidade a custo de tudo o resto, The Last of Us: Parte II tem o bom senso de apresentar um mundo moderno em toda a sua plenitude, sem nunca esquecer, e sem nunca deitar abaixo, seja quem for. É um jogo que usa a diversidade para promover a história e não a história para promover diversidade, mas não só. Religião, sexualidade, raça... tudo é retratado com o pleno arco-íris que cobrem estes temas, e não apenas com as cores que convêm a certos grupos, sejam elas positivas ou negativas.

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Se teve a sorte de não ter momentos da história estragados, vai encontrar muitas surpresas inesperadas em The Last of Us: Parte II, surpresas importantes, mas de que não podemos falar, porque isso implicaria revelar demasiado. O que podemos dizer é que a história de The Last of Us: Parte II é longa, com muitos eventos e acontecimentos, até um pouco em demasia. Se o primeiro Last of Us era uma série de oito episódios com um equilíbrio perfeito, The Last of Us: Parte II por vezes parece mais a segunda temporada que passou para nove episódios, perdendo algum foco pelo caminho. Existem várias narrativas a serem contadas, e por vezes a história central é relegada para segundo plano, e durante várias horas. Isto quebra um pouco do ritmo do jogo.

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Lembra-se de Stranger Things? Quase toda a gente achou que a segunda temporada tinha um episódio a mais, mas mesmo assim, havia muito de bom para apreciar nessa temporada. É o mesmo com The Last of Us: Parte II. Por vezes perde-se um pouco pelo caminho, mas esses desvios não são suficientes para sequer beliscarem tudo o resto, até porque essas narrativas mais paralelas são por si só interessantes.

O triunfo que é a história de The Last of Us: Parte II deve-se a vários fatores. Primeiro, há o excelente guião de Neil Druckmann e Halley Gross, reforçado pelo desempenho estupendo dos atores. Ashley Johnson e Laura Bailey são tremendas, dignas de Óscar, enquanto que Troy Baker apresenta a habitual qualidade elevada a que nos habituou. Mas existem mais, muitos mais, e até a prestação dos atores de voz portugueses como Joana Ribeiro, Marcantonio Del Carlo e Pedro Laginha, são de grande nível.

A Naughty Dog serviu-se depois de um grafismo muito acima da média, e da excelente banda sonora a cargo de Gustavo Santaolalla, para enriquecer e reforçar os desempenhos dos atores, tudo através de uma direção e de uma produção aos níveis do que se faz de melhor em Hollywood. Mas tudo isto seria inútil enquanto videojogo, se não estivesse ao serviço de uma jogabilidade à altura.

Como The Last of Us, a sequela é um jogo de ação (sobretudo furtiva) e sobrevivência, que segue uma estrutura linear composta por vários mapas - alguns bastante fechados, outros mais abertos à exploração com diferentes caminhos para seguir. Na pele de Ellie terá acesso a algumas ações que Joel não tinha, como a capacidade para rastejar, saltar entre plataformas, e até desviar-se de ataques. A jogabilidade não foge muito ao que já tínhamos experienciado no primeiro jogo, mas é enriquecida com uma evolução do design dos mapas, ambientes mais dinâmicos, e uma inteligência artificial superior.

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Ellie terá acesso a várias armas e acessórios, incluindo pistolas, caçadeiras, granadas de fumo, e minas, e para ultrapassar algumas das situações mais complicadas, terá de usar todo o arsenal ao seu dispor, sobretudo nas dificuldades mais elevadas (o Hard pareceu-nos a dificuldade mais equilibrada). Tal como no antecessor, os recursos em The Last of Us: Parte II são escassos, e terá sempre apenas o suficiente para sobreviver. O jogo deve utilizar um sistema dinâmico que calcula os recursos e munições do jogador, para depois decidir quanto irá oferecer ao jogador. É por isso altamente aconselhável a exploração dos cenários, até porque existem várias surpresas, colecionáveis, e referências para encontrar.

Pela frente terá, não dois, mas três grupos. Existem os infetados, que continuam a exigir muitos cuidados e ação furtiva, os membros da fação humana WLF, que utilizam cães e armas de fogo para caçarem os seus alvos, e os Cicatrizes, que são mais furtivos, e recorrem com maior frequência a arcos e a armas de corpo-a-corpo. Nenhum dos três grupos é fácil, mas requerem abordagens diferentes. Algo que apreciámos imenso em The Last of Us: Parte II, é que ser visto não significa o fim. Se fugir e voltar a esconder-se, e for inteligente com o que tiver à mão, poderá lutar e limpar uma área inteira de inimigos.

The Last of Us: Parte II não é felizmente apenas um jogo de dor e de combate. Existem algumas secções mais leves, e algumas até bastante divertidas, que lembram que até num mundo e num contexto tão duros, existem sempre momentos de ternura e de relaxamento. Não vamos entrar em pormenores, mas se gostou das secções mais divertidas e casuais da expansão Left Behind, não ficará desiludido com The Last of Us: Parte II. Dito isto, continuamos a falar de um mundo cheio de infetados terríveis (e existe um que é particularmente medonho), e embora não seja necessariamente um jogo de terror, alguns momentos fizeram-nos dar grandes pulos da cadeira. E claro, pode também contar com espetaculares sequências que parecem uma cutscene jogável, e que são já uma das marcas da Naughty Dog.

Muitos olham para The Last of Us: Parte II como o "canto do cisne" da PlayStation 4, o jogo que vem mostrar tudo o que a consola é realmente capaz de fazer em termos técnicos. E sim, o jogo faz de facto isso, mas também mostra o porquê de ser necessária uma PlayStation 5 em breve. Com um dos mundos mais detalhados que já vimos, excelentes condições de iluminação, e fantásticas animações faciais, The Last of Us: Parte II é um portento gráfico... mas notam-se alguns sacrifícios. O uso excessivo de grão na imagem torna o jogo menos definido do que poderia ser, e existem várias texturas e modelos no mundo que não têm a mesma qualidade que outros. Embora fantástico na PS4, The Last of Us: Parte II é um jogo que merece ser transportado para a PS5, onde poderá realmente atingir todo o seu potencial.

The Last of Us: Parte IIThe Last of Us: Parte II

The Last of Us: Parte II é também um jogo que, além de estar totalmente localizado em português de Portugal, inclui inúmeras opções de acessibilidade, mais do que alguma vez vimos num jogo. Desde filtros para jogadores daltónicos, a auxílios sonoros para jogadores com maiores dificuldades de visão, passando por notificações visuais para quem sofrer de problemas auditivos, é de aplaudir este esforço notável da Naughty Dog para tornar o jogo tão acessível quanto possível.

Depois de tudo isto, resta-nos falar um pouco dos defeitos de The Last of Us: Parte II. Como já referimos, o jogo perde algum foco durante a aventura, e o facto de algumas secções serem mais longas do que deviam, acaba por causar alguma fadiga de combate. Também é preciso referir que a Naughty Dog não resolveu por completo o problema da inteligência artificial que acompanha o jogador. Tal como no primeiro jogo, os companheiros do jogador nem sempre conseguem estar fora de situações em que seriam vistos pelos inimigos, e a solução é mais uma vez tornar o companheiro "invisível", sendo apenas reconhecido pelos oponentes quando o próprio jogador é também identificado. Não é uma solução elegante, e quando aconteceu, tirou-nos um pouco da imersão, mas pelo menos é uma situação que acontece com menor frequência do que no primeiro jogo.

The Last of Us: Parte II não tem bem o mesmo impacto que o original teve em 2013, mas é ainda assim um jogo fenomenal em todos os sentidos. Jogabilidade, história, grafismo, direção, som, interpretações, guião... tudo está ao mais alto nível, e é uma experiência absolutamente obrigatória para todos os jogadores com maturidade para o apreciarem. E mais uma vez reforçamos: mesmo que tenha visto os spoilers, dê uma hipótese a The Last of Us: Parte II, porque um jogo de quase 30 horas é muito mais do que meia dúzia de vídeos de má qualidade

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09 Gamereactor Portugal
9 / 10
+
Nível de detalhe sem precedentes. Narrativa memorável, que não tem medo de chocar os jogadores. Evolução da jogabilidade. Fenomenal desempenho dos atores.
-
História perde algo foco a certo ponto, ao ponto de parecer outro jogo. Combate começa a tornar-se repetitivo.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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