Como meio, os videojogos diferenciam-se das restantes formas de entretenimento digital pela interatividade. Existir a possibilidade de nos colocarmos no lugar de uma personagem e completar ações que normalmente seriam impossíveis para nós é o que torna um videojogo único. Mas existem alguns géneros que não seguem inerentemente essa tradição, como títulos que, em vez disso, procuram apoiar-se em narrativas diversificadas e envolventes, substituindo o foco nas mecânicas de jogo por uma narrativa mais profunda. Where the Heart Leads, da Armature Studio, é um excelente exemplo disso, e após passar alguns dias com o jogo, senti-me dividido.
A história segue Whit e decorre ao longo de vários momentos importantes da sua vida, mas não é esse o seu ponto de partida. O jogo começa com uma tempestade violenta que abre um enorme buraco na quinta da família, um buraco onde cai o cão da família, deixando Whit com a decisão de colocar a sua vida em risco para salvar o seu companheiro fiel ou, em vez disso, deixar o canino entregue ao seu destino. Ao decidir salvar o animal de estimação, Whit cai no buraco e começamos a sua viagem pelas memórias do passado.
Como Where the Heart Leads é uma aventura narrativa, a história é contada através caixas de texto e diálogos entre personagens. No papel de Whit, temos de completar uma variedade de tarefas enquanto exploramos níveis pequenos, mas diversos, para desbloquear o diálogo seguinte. No entanto, o jogo não segue, por exemplo, a estrutura de um título de plataformas e existem intervalos pequenos entre as novas sequências de história, que podem incluir deambulações pela quinta, ou a cidade local, tal como atividades específicas - como a construção de certas partes da quinta. O que quero dizer é que se não gostarem de ler ou de jogos mais lentos, Where the Heart Leads provavelmente não será o mais indicados para vocês.
Mas, isso não significa que o jogo seja mau. Where the Heart Leads é um conto envolvente repleto de emoção e intriga. As conexões entre as diferentes personagens e como elas expressam e processam os desafios e dificuldades que enfrentam são incrivelmente envolventes. Estar no lugar de Whit e ter de tomar decisões sobre como reagiríamos aos altos e baixos da vida destas personagens é emocionante e queremos continuar a jogar para ver onde o próximo capítulo levará Whit e os seus entes próximos durante a jornada da sua vida.
A combinar com a narrativa fantástica, temos um design de níveis verdadeiramente apelativo. Cada um dos locais é de tirar o fôlego e injeta muita personalidade ao jogo. Quer estejamos a descrever os campos verdes da quinta durante as secções de verão, ou do laranja castanho-avermelhado das folhas em decomposição durante o capítulo de outono, o design dos cenários motivam-nos a explorá-los apenas para apreciarmos a sua beleza natural. No entanto, o ângulo da câmara torna a exploração menos intuitiva, mesmo que consiga destacar a beleza de Where the Heart Leads.
Este é basicamente o meu maior problema com o jogo, na medida em que não parece que foi planeado para ser jogado como um jogo. Entre a falta de mecânicas interessantes e o ângulo estranho da câmara, que muitas vezes afasta o jogador de Whit em vez de o ajudar a aproximar-se do protagonista, temos uma experiência que, até certo ponto, sofre um pouco de crise de identidade.
Gostei muito de Where the Heart Leads, que se manteve empolgante até ao seu final. É o tipo de jogo que funcionaria perfeitamente na Nintendo Switch, em intervalos de 30-60 minutos entre transportes públicos - já que não requer demasiada atenção para o jogarmos. Mas, é um jogo exclusivo da PS4, pelo menos por agora, o que significa que só pode ser jogado em frente a um monitor/TV, de comando na mão, o que, pessoalmente, transformou-se num desafio já que atualmente existem títulos mais emocionantes nas consolas.
O que têm de decidir é se Where the Heart Leads, que se constrói em torno de uma experiência narrativa que exige muito pouco do jogador, é o tipo de jogo que estão à procura. Fora da sua história e do design dos cenários, é um jogo que oferece pouco em termos de mecânicas. Espero, no entanto, que o possamos ver um dia na Nintendo Switch, ou na Xbox, para que seja possível desfrutarmos de Where the Heart Leads longe da televisão.