Em 2013 a Kylotonn adquiriu a licença para o Campeonato Mundial de Rali, e em 2015 lançou o primeiro jogo baseado nessa licença; WRC 5. Era um jogo cheio de problemas, mas tinha potencial - um potencial que foi conquistado de forma gradual, ao ponto de termos louvado a qualidade dos últimos jogos. Agora aproxima-se o lançamento de WRC 10, um jogo que segundo o próprio estúdio representa a maior evolução desde que adquiriram a licença. Infelizmente não concordamos... de todo.
Na nossa opinião o ponto alto da série foi atingido com WRC 7. Não era um jogo perfeito, ou o mais realista, mas era bastante bom - excelente em algumas áreas. Na nossa opinião permanence uma mistura quase perfeita entre condução arcade e simulação, combinada com gráficos limpos e visuais suavemente coloridos e sombreados. Foi também o jogo da Kylotonn que apresentou a melhor qualidade sonora de qualquer jogo do estúdio.
Mas, depois disso, decidiram mudar o motor gráfico e reescrever o sistema de física. WRC 8 e 9 continuaram a dar-nos esperanças e a mostrar potencial, mas isso acabou com este WRC 10. Trata-se de um retrocesso na nossa opinião, com um foco equivocado, e uma relutância do estúdio entre ser um jogo de simulação ou condução arcade. O equilíbrio perfeito de outrora foi-se, e no seu lugar ficou uma experiência de jogo que parece quase esquizofrénica.
O estúdio também se comprometeu a otimizar WRC 10 para os comandos, o que pode ser agradável para quem só joga com comandos, mas é uma desilusão para os que apostam em volantes. À semelhança do ano passado a Fanatec é o parceiro oficial de WRC 10, e de facto existe boa ligação entre o jogo e o Fanatec DD2, mas independentemente do volante, ficámos desapontados com o resultado. Apesar de horas de calibração e ajustes, o force feedback entre jogo e volante nunca pareceu certo, e a jogabilidade como um todo sentiu-se lenta e sem potência. Uma verdadeira desilusão, ao ponto de termos passado alegremente para o comando da Xbox Series X|S.
Foi uma passagem da noite para o dia, e nota-se essa aposta do estúdio em otimizar WRC 10 para o comando. O carro responde melhor e é possível aumentar a aceleração de forma consistente, sendo também mais fácil entrar nas curvas mais cedo para ter maior velocidade na saída. Dito isto, os controles ainda carecem de sensibilidade em termos de onde está o centro de gravidade do carro, que em demasiadas vezes parece um trenó de aço sem controlo. Isto além de uma estranha ausência de sensação de velocidade.
Estamos também desiludidos com o número de etapas oficiais presentes em WRC 10. A Kylotonn teve mais de seis anos para recriar estágios de WRC mais realistas, mas continua a fazer muito pouco nesse departamento. Sim, existem algumas etapas de grande qualidade, como Portugal e Quénia, mas dado o facto de ser um lançamento anual com poucas novidades nos últimos anos, começa a saber realmente a pouco o que WRC tem para oferecer neste campo.
No entanto é preciso dizer que existem algumas "etapas épicas" extremamente longas de mais de 50 quilómetros, que são desafiadoras e divertidas em termos de design. Infelizmente como a jogabilidade não está à altura, isso acaba por não importar muito. Mas o mais estranho foi a quebra na qualidade do som, ao ponto de WRC 10 ser um dos piores da Kylotonn nesse aspeto. É difícil perceber o que aconteceu, já que o som forte, alto, intensamente mecânico, metálico e ruidoso do motor de WRC 7, em combinação com o barulho constante de cascalho grosso a bater no chassi dos carros, foi substituído pelo que soa como um aspirador de pó. Não conseguimos mesmo perceber o que se passou.
Se há algo que merece elogios, contudo, é a garagem e o modo carreira. Em termos de conteúdo, Kylotonn é brilhante e o advento do modo de jogo do 50º aniversário (WRC comemora 50 anos este ano) é algo que aplaudimos. É possível conduzir através de ralis e momentos históricos, o que será um tremendo 'plus' para verdadeiros fãs de rali.
Existem muitos carros aqui, de várias classes diferentes, e uma variação fantástica em termos de países e ralis, que o irá levar através do asfalto na Espanha, a areia vermelha em África, e as montanhas nevadas da Suécia. Nesse sentido WRC 10 apresenta lampejos de grandeza nesse sentido limitado, mas apenas nesse sentido. WRC 10 está mais bem preenchido do que os jogos anteriores da série, e existem etapas soberbas quando se trata do layout geral (pena que não existam mais etapas reais), mas a sensação de condução está pior que nunca. Está cada vez mais arcade, o suporte ao volante é uma desilusão, e o som é simplesmente atroz. Assim torna-se muito difícil recomendar WRC 10.